sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

PRIMEIRA NOTA DE VEGA E OUTROS POEMAS DE JAIME LORENTE

primeira nota de vega

olhamo-nos nos olhos:
apenas nos rodeia
o silêncio do que nascerão as palavras

ainda é cedo para serem pronunciadas
mas ela sabe quem sou

respira devagar
ainda o mundo não lhe ensinou
como acelerar os relógios;
a vida adormece nos seus olhos lentamente
com a minha mão amarrada

naquele momento cúmplice, íntimo, secreto
naquele vínculo vivo e nascente
germola a poesia


determinação

entre maços de papel com poemas tristes
sou um homem feliz
eternamente grato

entre maços de papel com poemas tristes
está a vida convosco

ante uma realidade distópica, desafiante,
refugio-me na poesia crítica
-sem largar a vossa mão-
então
volto ao lar

entre maços de papel com poemas tristes
fica o amor;

sumo
para vos alcançar a cada instante
e dedicar o meu tempo
a caminhar convosco
no coração puro,
neutro e singelo
da vida


entre reixas

por vezes saímos da prisão da nossa mente
e nunca encontramos
países, fronteiras ou ideologias:
apenas pessoas,
montanhas, peixes, mares e rios

compreendemos
que somos livres rodeados de aramados
a respirarmos o ar viciado
que nos mata lentamente

descobrimos
que uma parte de nós
saiu e conheceu a verdade

e muitos
por medo de afrontarem o mundo
e lutar contra as injustiças,
vestem de novo
a sua roupagem riscada
e
retornam
obedientes
à cadeia


© Texto: Jaime Lorente, 2018
© Tradução: Xavier Frias-Conde

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