quarta-feira, 17 de junho de 2015

TRES POEMAS DE JOSÉ LUIS GARCÉS

I

Este adeus abeirado que me dói
não o liberto como ele quiser
não por temor a te perder na fuga
de facto
já foste embora


Faço-o
porque entre a tristeza e a saudade
há um espaço tão duro e tão vazio
que quando consiga recordar-te
em paz... com calma
decerto
seremos desconhecidos


II




Tratarei a tua lembrança com a cautela que me dê a memória
com a rebeldia que o silêncio me guarde
com a indiferença que a alegria me surpreenda
com a solidão que a calma por mim espere.


Deixá-lo-ei sozinho na sua conceição
na sua supervivência
que o seu alento dure
quanto o esquecimento decida
que a sua imagem se esvaeça
assim que o vento sentencie.


Tratarei a tua lembrança com cautela
com austeridade e pobreza
com a mesma intermitência
da tua breve existência


III



Mudaria o minuto do teu encontro
agora
para este instante...
A incerteza vai matando
o tempo consome
a solidão acomoda-se
abandonaste o sonho

© Texto: José Luis Garcés
© Tradução: Xavier Frias Conde