terça-feira, 30 de dezembro de 2014

ANGEL PARA UM FINAL, DE MONTSERRAT VILLAR




ANJO PARA UM FINAL

Acontece que os anjos despenduraram com a trovoada
e choram enquanto as suas asas
ficam molhadas nos charcos.

Acontece
que os miúdos vigiam as suas mães nos parques
e ameaçam com abandoná-las.

Acontece
que nas carícias já as mãos não tremem,
que um corpo e o outro já nem se tocam
exceto para cobrir as despesas.

Acontece
que o nevoeiro fica às paredes apegado
e grafiteia o silêncio da noite.

Acontece
que as sombras caminham sem os corpos
e vai frio, muito frio.

Acontece
que o mundo é um espiral que expira
por cada desfeita de um justo.


CADÁVER

Sou um cadáver em processo de decomposição
sei-o porque as moscas
volateiam ao meu redor com olhos de avaras.

Sei-o porque o frio não abandona os meus dedos.
Sei-o porque não me vês
e não me tocas.

Sei-o porque aqueles apagam a minha recordações
e estes ficam tranquilos
na sua recém estreada solidão

© Texto: Montserrat Villar
© Tradução: Xavier Frias Conde

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