sábado, 13 de setembro de 2014

SPHYNX, DE KAREN BOYE


Descobri nestes dias uma autora sueca, uma poeta do século XX. Eu não posso ler em sueco, mas sim encontrei umas boas traduções dela para inglês. Este é um exercício tradutológico e literário traduzindo-a para português da Galiza

A UMA ESFINGE

És como o molusco duma charca congelada
onde nunca chegam os raios do sol.
Nunca se arrisca fora da sua concha,
não pode esquecer a sua prisão,
apenas pode esconder
a sua mais íntima essência
e sonhar com grandes façanhas
entre as algas,
mas nunca completa
e indivisivelmente
vaziar-se em palavras ou obras.

O teu discurso desprende ironia.
Tentas cobrir
com frio fingido
o calor da vida que mora dentro.
Mas treme a tua voz,
é tão débil.
Vê-se o teu rubor
trás cada pálida bochecha.
Un pássaro de lume arde
num lugar secreto
que ninguém conhece,
que ninguém rastreia.

És frágil e débil e mansa demais
para todos os conflitos que desamarram:
hás de aturar vestir armadura
no jogo tirânico da vida.
És como um molusco numa charca congelada
que nunca se arrisca fora da sua concha,
tão inatingível,
tão incompreensível,
que ninguém se te abeira, nunca.

© Texto: Karen Boye
© Tradução: Xavier Frias Conde


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